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Artigo: A importância da promoção da equidade de gênero na auditoria independente

25 de maio de 2022

Por Valdir Coscodai

No presente cenário global, permeado por acentuadas desigualdades, guerras e intolerância, a pandemia, em paralelo às tristes perdas que impôs à humanidade, deixa uma dura, mas importante lição: a solidariedade, o respeito e o foco prioritário nas pessoas, sem quaisquer discriminações, são fatores condicionantes à solução dos problemas econômicos, geopolíticos, sociais e ambientais que afligem a humanidade. Nesse cenário, as conquistas no campo da inclusão e diversidade precisam ser celebradas e ampliadas, para que tenhamos uma sociedade mais equânime e igualitária para todas as pessoas. E hoje vou falar um pouco mais sobre a importância da promoção da equidade de gênero para o avanço da participação das mulheres na auditoria independente.

O ambiente de trabalho é o lugar em que as pessoas mais interagem no seu cotidiano, convivendo de modo intenso com as diferenças. Por esse motivo, as organizações têm um papel fundamental na promoção de segurança psicológica para que todas as pessoas sintam-se incluídas, respeitadas e à vontade para ser quem são no trabalho. Tais questões são amparadas pela legislação federal: a Lei 9.029/1995 proíbe a adoção de qualquer prática discriminatória para efeito de acesso à relação de emprego ou sua manutenção, seja por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil ou idade. Esse posicionamento também é ratificado pela convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que contém medidas para eliminar a discriminação no ambiente laboral, com incentivo a leis e programas de educação sobre o tema.

Dada a importância das empresas de todos os setores nas ações de combate à intolerância e ao preconceito, precisamos continuar trabalhando para preservar e ampliar as conquistas. Em nosso país, uma pesquisa divulgada neste ano pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), com base em dados da Pnad 2021 do IBGE, mostra que, entre 2014 e 2019, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho cresceu continuamente e atingiu 54,34%.

Entretanto, ainda há muito a avançar: segundo dados do Guia da Diversidade da consultoria global Great Place to Work (GPTW), apenas 26% das posições de alta liderança nas melhores empresas para trabalhar eram ocupadas por mulheres em 2021. Nos outros níveis de gerência, elas detinham 44% dos cargos. Outro estudo do IBGE, também divulgado em 2022, indica que a presença feminina em cargos gerenciais e de liderança no País é de 37,4%.

O Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil, que congrega entre os seus associados firmas e profissionais do segmento, vêm realizando diversas ações voltadas a contribuir para que seja cada vez maior a presença da mulher nos quadros de profissionais e em cargos de liderança no setor, no qual se verificam progressos. Por isso, ao completar 50 anos em 2021, o Ibracon definiu, de modo estratégico, as Bandeiras da Auditoria Independente, que norteiam suas ações, dentre elas, a diversidade e a inclusão. Isso significa, no âmbito da promoção da equidade de gênero, motivar e fomentar a inclusão de mulheres, sobretudo, em cargos de liderança.

E temos observado forte aderência das firmas de auditoria no desafio da equidade de gênero. Um estudo que o Ibracon realizou com as firmas associadas mostra expressivo avanço. Nas de pequeno e médio portes, as mulheres já são cerca de 47,4% da força de trabalho, sendo 45% nos postos de liderança (entre sócios, diretores e gerentes, inclusive com expressiva participação no quadro societário). Nas empresas de grande porte, as mulheres ocupam 35% dos cargos de gerência, 45% de diretoria e 25% nos quadros societários. Por meio de políticas internas cada vez mais abrangentes, temos observado uma evolução visível, proporcionado melhores resultados a cada ano.

É gratificante constatar, de acordo com o levantamento, a tendência das firmas do setor de promover ainda mais a participação das mulheres na liderança e em suas estruturas de governança. Buscando atuar de modo consistente e coerente com o que preconiza, o Ibracon também aumentou a presença das mulheres em seus próprios quadros. Hoje, elas ocupam 33% dos seus cargos de liderança, considerando conselheiros, gerência e diretoria. O número de profissionais associadas também vem se expandindo anualmente, representando, atualmente, 15% do total.

O crescimento da participação das mulheres nas firmas do setor e nos quadros de profissionais e associados do Ibracon é congruente com o Manifesto pela Inclusão e Diversidade, lançado pela entidade na 11ª Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente, em dezembro de 2021. E, como é enfatizado no documento, acreditamos no poder das diferenças como agente de mudanças globais, causando um impacto relevante e positivo para os clientes, as pessoas e a sociedade.

Para manter vivos esses propósitos, criamos no Ibracon, em 2021, o Comitê de Inclusão e Diversidade. Convidamos os leitores a acompanharem as iniciativas e serem aliados no nosso trabalho de combate à discriminação, à intolerância e a quaisquer formas de preconceito, incluindo as ações em defesa da equidade de gênero.

*Valdir Coscodai é presidente do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil